Já vinha prometendo, então estou aqui para cumprir, vou lançar aqui o meu trabalho de restauração do Monza SL/E duas portas 1.8 à álcool 1988/1989 bege, comprado 0km pelo meu avô, falecido recentemente. Sim, sei, já falei dessa história na minha apresentação, então vou focar mais no aspecto histórico do carro, não nas minhas vivências pessoais/familiares (se bem que foram muitas a bordo desse campeão)...
No entanto, ainda a título de introito, preciso alertar aos amantes e entendidos desse carro que sou um neófito na arte: não entendo de mecânica muito além do que entenderia um simples jovem amante de carros, muito menos de restauração. Nessas, desde já peço desculpas pelos impropérios que fatalmente irei escrever aqui, bem como agradeço, desde já, toda a colaboração que poderia vir dos amigos.
Dito isso, finalmente, vamos ao carro.
Trata-se esse carro de um SL/E básico (no mais estreito sentido da palavra), além do SL é só o acabamento (próprio dos SL/E's, o que já justifica para mim, hehehe) pelo que percebo, pois além desse não temos sequer desembaçador do vidro traseiro. Ou seja, nada de trio elétrico, banco traseiro com apoios e descansa braços, luzes de leitura, ar, direção, etc. (ao menos não terei problemas com fiações, achar botões, essas coisas, hehehe). Uma pena, adoraria um 2.0 completo para chamar de meu, mas ainda assim não troco a nossa relíquia por nada.
Esse carro foi retirado 0km da Concessionária Simpala, de Porto Alegre, onde meu avô fez as manutenções programadas (não muitas, pois ele deixou de dirigir o carro mal tinha 30.000km) e demais intervenções no carro, que sempre foi muito bem cuidado por ele. Para começar, era um carro que não saia de casa para qualquer passeio: todo o serviço pesado pela família era realizado a bordo de uma valente Brasília branca 1979 que serviu até 2000, incluindo viagens ao litoral e outras bocadas mais exigentes. Ao Monza, cabia apenas desfilar em asfalto e em poucas oportunidades, ação essa sempre precedida por um ritual: meu avô retirava o carro da garagem, lavava-o para tirar o pó, secava e então ficava na frente de casa, sendo de conhecimento daqueles que recordam os idos tempos do final da década de 80 o que significava ter um Monza SL/E a disposição. Enfim, quando ele faltou, um tio, principalmente, recebeu o bastão e ficou encarregado da manutenção dele, mas acabou tomando um caminho não tão zeloso. Não que tenha ocorrido problemas maiores, o carro nunca bateu ou coisa coisa próxima do tipo. Ele está em sua essência, nada foi trocado, senão uma ou outra coisinha ou pecinha de acabamento. O que está pegando mesmo é o desleixo geral na sua conservação. Êi-lo:
Como podem ver, o carro está muito íntegro, com bons detalhes que demonstram a sua originalidade. Mas, como disse, minha proposição é deixá-lo em estado de 0km, razão pela qual, inclusive, estou me propondo a algumas extravagâncias que muitos aqui vão dizer que beira a loucura, por estar rasgando dinheiro, como a ideia de só colocar peças originais, com direito a logo da GM e tudo, no carro, mas peço a licença poética neste ponto: estou falando de um carro que está a quase trinta anos na família e eu sou a 3ª geração responsável por ele. Admitido meu lado "Zé Frisinho Original da Silva", já comecei meu trabalho de garimpo, encontrando algumas peças que já começaram a chegar e que estão me dando uma diversão imensa:
Comecei com a parte mecânica. O carro já está em serviço, inclusive tive a alegria de vê-lo funcionando! Uma enorme emoção, diga-se, pois estava muito preocupado com o que poderia ter deteriorado já. Pelas fotos, vocês já podem ter ideia da minha apreensão:
Mas o motor parecer ter muito boa saúde, está suave, apenas com a lenta mal regulada, situação agravada pelo excesso de tempo sem funcionar, porém me parece que está batendo um pouquinho de válvula. Enfim, a ordem foi rever tudo. Nessa mecânica (como não conhecia ninguém em Porto Alegre que trabalhasse com carburação, levei no mecânico onde levo meus carros de uso mesmo), lá vou limpar todo o sistema de arrefecimento, talvez trocar o reservatório de expansão (acho que vou colocar um paralelo de boa qualidade até achar um novo, não sei ainda), colocar água desmineralizada (essa já aprendi com o Eduardo Saura - desde já meus agradecimentos, já vi e revi muitos dos vídeos atrás dos detalhes do carro) com aditivo. Claro, junto com isso, trocar filtros, óleo, fluido de freio, etc. Vou fazer as regulagens diversas (tudo menos carburador, o meu mecânico já disse que não vai rolar, mas que tem indicação de quem faça o serviço), troca de velas, cabos, limpeza do tanque de combustível, verificação do funcionamento da partida a frio, e por ae se vai. Ainda, já vi que terei que trocar os amortecedores (estão os originais ainda), verificar as buchas, coxins (o dianteiro esquerdo acho que foi para o saco também), assim como por o sistema de freios em dia, verificando pastilhas, lonas, discos, tambores, cilindros, etc. Acho que o escapamento está bom, mas suspeito que não é original, mas esse acha que não vou ter como ir atrás. No fim, se der para colocar a ponteira original dele (até achei um anúncio, mas nem sei como comprar isso, considerando que a surdina não deve ser a original também, mas vou dar meus pulos. Também vou fazer ali a parte elétrica de motor eu acho, conferir o funcionamento do alternador, bobina (que vi que foi trocada, mas sabem como é), ignição, etc. Terminada as arrumações, uma limpeza geral do motor e acho que está pronto. Minha dúvida aqui vai para o coletor, deu para ver que ele está bem feinho e não sei direito o que faço com ele.
Feita a mecânica, o plano é seguir para a pintura, Primeiro ponto a ser destacado é que a pintura nunca sofreu intervenção nenhuma. Esse carro simplesmente não conheceu o barulho de um compressor de ar depois que saiu da linha de montagem. Se por um lado a pintura está feia, por outro lado não queria mexer nela, queria mantê-la original. Penso que um bom e criterioso polimento deve dar conta da reerguida, ou talvez uma revitalização, não sei ainda. Sei que gostaria de evitar ao máximo repintar, mas temo que vai ser matéria a ser estuda ainda (e nesse ponto volto a insistir que agradeço os pitacos que os amigos puderem dar, hehehe). Por outro lado, tem partes que vão complicar um pouco, a exemplo desse enorme e já enferrujado risco no porta-malas:
Além desse risco, tem algumas moças na porta do motorista e uns riscos mais profundos nessa e no teto do carro. Inclusive, demos até o azar de cair uma placa de sinalização em cima dele enquanto meu tio o dirigia (!!!), provocando um enorme estrago no friso e arranhões no teto:
Não dá para ver o risco feio que ficou no teto do carro mais para a direita, mas está lá, tão fundo e mal cuidado quanto o do porta-malas. Ainda, possível ver o acabamento (horroroso) da coluna B, mais vagabunda impossível, mas que não estou conseguindo encontrar nova para comprar, bem como nem mesmo uma usada minimanente decente. Vai ser uma boa caça.
Ah, ia esquecendo, tenho as rodas originais com calotinhas e tudo, prontas para serem restauradas também, e pretendo trocar os pneus marca-diabo que estão nele por uns Goodyear, que eram os originais dele (nota: de tanto que o carro ficava parado, acabaram estragando e tendo que ser trocados por outro, mas ae a xunnagem já tinha começado).
Pintura em dia, vou para a parte de maior alegria talvez: estofados, tapeçaria e acabamentos internos e externos. Por fora, já estou em tratativas avançadas: já mostrei que tenho todas as peças de acabamento que faltavam ao para-choque dianteiro, que seria a situação mais grave, faltando os acabamentos pretos das fechaduras (inclusive um está até rachada), assim como não sei o que faço com o espelho retrovisor esquerdo, que andou levando uns cutucos e parece solto, como se tivesse algo quebrado nele. Por sua vez, os estofados e a tapeçaria estão bons até, o que vai demandar intervenção feia é o banco do motorista:
Uma pena ver esse banco do motorista assim, acho que vou ter que refazer o enchimento dele e talvez do passageiro também. Uma das poucas coisas que penso em fazer que não seria tão original assim seria dar um banho de cromo nas hastes dos encostos de cabeça, acho que ficaria legal e não teriam mais aquele aspecto de ferro velho ao longo do tempo.
Em algumas fotos dá para ver até uns detalhes interessantes que só hoje entendo, como os sensores do alarme nos vidros (nada mais do que uma espécie de botãozinho tipo das portas que se movimenta na ausência do vidro). Dá para também, que o interior está bem aceitável (repiso, tudo original), mas demanda uma diligente limpeza. A verdade é que estão íntegros, porém até mofados estão as laterais traseiras:
Não é possível ver, mas elas estão mal encaixadas (possivelmente por conta do alarme xing ling que foi instalado em substituição ao original) e o tecido delas está descolando (e novamente lembro do Eduardo Saura falando da dificuldade que é refazer isso - #tenso). Notem que de preto rajado elas parecem esverdeadas, em razão do mofo, uma tristeza, mas estão lá, esperando ser reavivadas.
De resto, são detalhes que já estou atrás:
Já comprei o botão do farol, assim como estou estudando o caso de trocar essas chaves de seta e limpadores (claro, sempre por originais), acho que não dá para recuperá-las. Uma que já estou sentindo dificuldades para contornar é a troca daquele acabamento da alavanca do freio de mão, nitidamente paralelo e muito do mal colocado. Mas dá para ver ainda o auto-rádio sem toca-fitas instalado na concessionária (agradeceria imensamente para quem souber me dizer o nome do modelo dele, só sei que é Bosch), com as caixas instaladas no pezinho (aliás, vou ter que fazer alguma coisa com as telinhas dos auto-falantes, estão amassadas). O relógio digital também está me causando cólicas: queria consertar o original, que tem a frente bem novinha, sem qualquer ataque a grafia dos botões, mas não sei se rola.
De resto, seguem mais alguns detalhes por fazer:
Bem, esse é o ponto de partida.
Como visto, nada perto das restaurações que já vi vocês fazendo aqui neste forum, mas para mim tem um nuance especial: se não bastando se tratar de um Monza, é O Monza da família. Até hoje sinto o cheiro dele novo quando entro nele, algo que nem sei descrever. Quero deixá-lo em estado de perfeição, o mais original possível e com direito a placa preta em 2018, para entregar aos cuidados dos meus filhos e assim a fora. Estou ainda atrás da documentação dele. Meu tio referiu esses dias a possibilidade de termos ainda a nota fiscal dele, bem como todos os livretos (a última vez que vi o manual dele, estava no porta-luvas, com as folhas grudadas entre si, quase estraguei tentando abri-lo). Ah, consegui sensibilizar o gerente de oficina da Simpala daqui de Porto Alegre e ele se comprometeu a me repassar as informações técnicas a que tiver alcance junto à GM. Ainda, os diretores dessa concessionária também são antigomobilistas e ele comentou que poderiam fazer alguma mão, com indicações, etc.
Conforme for andando o plano, vou informando aqui, com direito a fotos sempre que possível.
Para quem teve paciência de ler até aqui (não sei se são muitos, hehehe), fica o meu agradecimento pela atenção, bem como por eventuais contribuições.
[]'s a todos.
